O Ubuntu é a distribuição Linux que mais investe em marketing sobre migração, do Windows para Linux. A própria Canonical investe pesado mundo afora sobre o Ubuntu ser a distribuição Linux mais adequada para os usuários Windows que gostariam de conhecer (e abraçar de vez) o Linux. E a mídia contribui e muito para a popularidade do "Linux para Seres Humanos", sempre reforçando essas "vantagens" para todos. Por sinal, a mídia tem focalizado tanto no Ubuntu, que raras são as vezes que ouvimos falar sobre outras distribuições Linux igualmente adequadas para uso por usuários iniciantes. E o alvo é sempre o mesmo: os usuários do sistema operacional Windows que estejam insatisfeitos com problemas como preço, instabilidade e segurança (vírus, trojans, e malwares em geral).
Mas existe um problema em potencial. Há muito tempo que o Ubuntu vem ampliando a facilidade de uso de sua distribuição sem se preocupar "em mesmo nível" com a segurança, como é o caso do uso do comando sudo com a senha de usuário da instalação do Ubuntu, sem oferecer a criação de uma senha de root no processo.
Existe um problema colateral em todo esse processo. Com a posição do Ubuntu de tornar a migração dos usuários Windows para o Linux o menos indolor possível, o projeto está esquecendo uma peça fundamental: a filosofia Linux. Por causa do Ubuntu, hoje a "comunidade" Linux nunca foi tão gigantesca... mas também por causa do Ubuntu, muitos são os usuários Windows que vem para o mundo Linux, com a mesma mentalidade de uso do sistema operacional da Microsoft. Simplificando: o número de "usuários" Linux que não se preocupam com a filosofia e a liberdade de software, só tem aumentado. E acredito que estão próximos de serem maioria na "comunidade", o que poderá trazer sérios problemas para o futuro do Linux.
O que é a Liberdade e a Filosofia Linux?
Sei que muitos podem estar se perguntando isso agora. Por isso quero lembrar a todos que ser um usuário Linux não é somente poder utilizar um sistema operacional "de graça". Tem muito mais coisa envolvida no processo. E é ai que entra a filosofia e a liberdade. A liberdade é a capacidade de poder conhecer e mexer no seu sistema como um todo, desde o seu kernel até a carcaça gráfica mais externa. Poder conhecer a fundo o seu sistema operacional lhe trás, além do conhecimento, a confiança.
E a filosofia nasce da liberdade (ou seria o inverso?). Ao ter toda essa liberdade entra em jogo a colaboração. Com o Linux, você pode ajudar a quem quiser, assim como ser ajudado, por livre e espontânea vontade. Você poderá contribuir com todos os projetos envolvendo Linux (desde o kernel até o seu aplicativo gráfico preferido), além de ajudar outros usuários a conhecerem a fundo o seu sistema, ou mesmo como utilizar aquele determinado aplicativo gráfico. E a colaboração gera a comunidade, que livre para agir, está presente em todos os países do mundo, trabalhando para o crescimento contínuo do Linux.
Agora uma pergunta: Você acha que pode fazer o mesmo com o Windows? Além de ser um sistema operacional proprietário e (sendo redundante) sem acesso ao seu código-fonte, a cada nova versão do Windows lançada pela Microsoft, menos você terá acesso as configurações fundamentais desse sistema. Acho até que o intuito da Microsoft na evolução de seu sistema operacional, é torná-lo o que a Apple fez com seu mais novo produto, o iPad. Um sistema completamente fechado onde o usuário só poderá utilizar o que estiver disponível no produto.
O Problema do sudo
Agora que o conceito de liberdade e a filosofia Linux já foram expostos, podemos abordar novamente o "problema" do sudo no Ubuntu. Como disse anteriormente, a maioria esmagadora dos usuários Windows utilizam sua conta com privilégios administrativos. Raros são os que usam contas normais e efetuam tarefas administrativas à parte (até porque o Windows cada vez menos permite interação administrativa por parte do usuário). E no Ubuntu, o sudo vem pré-configurado para dar poderes de root a toda hora que o usuário precise, seja via terminal ou gráfica, utilizando apenas a sua própria senha de acesso (e não a de root).
Em qualquer administração sensata, seja num ambiente de TI ou mesmo na nossa própria casa, contas diferentes devem sempre possuir senhas diferentes. A senha de root deveria sempre ser requisitada na instalação do Ubuntu, e o usuário root sempre existir por padrão. Ao precisar efetuar uma tarefa administrativa, o usuário ainda poderá ter opções de abordagem, sem se esquecer da facilidade de uso. Vamos primeiro mostrar a abordagem por linha de comando, que sei, muitos detestam, mas é uma facilidade omni-presente no Linux.
Pela Linha de Comando
Caso o usuário precise efetuar tarefas administrativas e souber utilizar o terminal, ele pode seguir uma das duas abordagens abaixo (que são tão fáceis quanto digitar sudo no terminal):
- A primeira seria fazer com que o usuário normal vire usuário root, utilizando o comando su -, e digitando a senha de root. Depois de virar root e fizer tudo o que precisa fazer na administração, o usuário digitaria exit, para voltar ao seu usuário normal.
- A segunda opção é quando a tarefa a ser administrada é simples e não precisa há a necessidade de se virar root somente para (na maioria dos casos) aplicar um único comando. Para isso, o usuário poderá utilizar o su -c "<digite-aqui-seu-comando>". Após o combo su -c, é pedido a senha de root. Uma vez fornecida a senha, apenas a "tarefa" entre aspas será realizada, e o usuário retornará imediatamente para seu login de usuário normal.
Como você pode ver, o su -c é muito parecido com o sudo em funcionalidade, e com a vantagem de, além de pedir uma senha de super-usuário diferente da senha de usuário comum, após sua execução, o usuário continuará no seu terminal sem poderes administrativos para nada.
Pelo Ambiente Gráfico
No caso de uma iteração via ambiente gráfico, o sistema deveria pedir em uma janela popup a senha de root, e não a senha do próprio usuário de instalação. Não devemos nunca deixar que desvirtuem o Linux por "pura preguiça", ou porque o querem parecido com a maneira Windows de ser. Existe o fator segurança, nem que seja induzida. O usuário utilizando contas de administração terá uma atenção muito maior em suas tarefas administrativas, do que quando em posse de sua própria conta (que deveria ser limitada) para tarefas do dia-a-dia.
Outro ponto importante de se ressaltar, é a distinção de foco entre os sistemas operacionais. Se todo usuário Windows realmente quiser que o Linux funcione da mesma maneira que o OS da Microsoft, que o mesmo nem venha para o mundo Linux e continue com seu sistema operacional instável, altamente susceptível a vírus e "congêneres", e a abominável "tela azul da morte", além dos sumiços inexplicáveis de arquivos pessoais, DLLs, etc.
Repetindo: Quando o usuário vem para o Linux, ele não ganha apenas um sistema operacional estável, robusto e gratuito. Ele também ganha liberdade e uma nova filosofia de vida. E se você tentar separar o Linux da sua Filosofia e Liberdade, você não mais terá o Linux.
Facilidade de Uso versus Segurança
Sabemos que o Linux tem capacidade de sobra para continuar a ser cada vez mais fácil e intuitivo de se utilizar, do que o próprio Windows. E tudo isso sem abrir mão da segurança. Não existe apenas um único caminho a se percorrer, existem sim, n formas de se manter a segurança no Linux, fornecendo de forma paralela toda a facilidade de uso que o usuário almeja. O que não pode acontecer é vermos o Linux se tornar um Windows, em relação a falta de segurança, só porque querem "simular" cada vez mais o "modo de uso" do sistema operacional da Microsoft.
E a anos que o Linux não "copia" mais nada do Windows. Já tem muito tempo que os papéis se inverteram, e é o sistema operacional da Microsoft que tenta copiar as idéias do Linux (ao meu ver, "a cara" do Vista foi uma tentativa bem próxima de simular o KDE4, um projeto de desktop realmente inovador). E tem muita coisa que o Linux já implementou, há anos, que ainda está na Wishlist da empresa de Redmond.
GNU ou Não-GNU?
Esse é um ponto importante. Para os usuários Linux, realmente importa sim, e muito, se a distribuição é GNU ou não-GNU! E a preferência deveria ser sempre pelo GNU. Afinal, todos no mundo Linux lutam para que os padrões (e os códigos) sejam sempre abertos, e que nunca precisemos de codecs, plugins, etc, que sejam de código fechado, ou alguma emulação tosca para "funcionar" no Linux, direta ou indiretamente. Como disse anteriormente, e repito agora, o verdadeiro usuário Linux nunca deve separar a filosofia e a liberdade do seu Linux.
Claro que esse é um "problema" que afeta a maioria esmagadora das distribuições Linux existentes no mundo. E isso inclui todas as principais distribuições Linux da atualidade. E se continuarmos permitindo o uso de códigos fechados ou proprietários no Linux, poderemos acabar perdendo tudo o que conseguimos até hoje em liberdade.
Estejam atentos: quanto mais lutarmos por padrões abertos, menos estaremos sujeitos as imposições do mercado. E lembrem-se de algo muito importante: se não fosse o Linux hoje, estaríamos sem opção de sistema operacional para desktops, e tendo que conviver com um sistema operacional absurdamente caro e tremendamente instável, inseguro, e outros problemas já muito bem conhecidos e "documentados".
Agora é com você! Gostaria que os usuários dessem suas opiniões a respeito desse texto, da forma mais construtiva possível. E claro, peço que sejam educados, e tratem de forma educada todos os outros usuários do portal que estiverem participando da discussão.
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