Software Livre e Preconceito: odiar a Microsoft
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em 27-09-2010 às 16:56 (3553 Visualizações)
Não sou a primeira nem serei a última pessoa a comentar sobre os preconceitos que aparecem com freqüência em conversas em comunidades de software livre. (do mesmo modo que leitores atentos já notaram meu pre-conceito com a nova norma ortográfica...).
Todas as comunidades que possuem um tema específico de "louvor", carregam consigo preconceitos que não são próprios da comunidade nem de seu tema, mas da própria sociedade em que estão inseridos.
Este é um dos três artigos que vou escrever sobre o assunto.
Ódio contra a Microsoft, machismo e endeusamento da pirataria são alguns dos temas recorrentes em comunidades de software livre, não como assunto principal da conversa, mas embutido em comentários paralelos, geralmente buscando obter efeitos cômicos.
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Quanto ao ódio pela Microsoft, é bem maniqueísta: ou você é do bem, ou você é do mal. Eu não gosto de usar Windows, uso só em último caso, mas não acho que a Microsoft seja um monstro: é uma empresa, como milhares de empresas, que buscam monopolizar o mercado porque assim ganham mais dinheiro. É uma lógica capitalista e vivemos dentro de um sistema capitalista, o que não justifica que devemos apoiar os monopólios, já que os únicos beneficiados são os detentores do mercado. Odiar a Microsoft por isso é um engano, ela funciona dentro das regras e com um objetivo totalmente aceito num mundo capitalista (ganhar mais e mais dinheiro). Claro que o "dentro das regras não é tão simples assim. Tudo indica que a Microsoft estimule a pirataria ao mesmo tempo que divulga ser contra, pois se muita gente usar windows, pirata ou não, menos gente vai conhecer outras alternativas, o que favorece o monopólio da empresa. A Apple, na minha humilde opinião de usuária, faz produtos infinitamente superiores ao da Microsoft, muito mais estáveis, integrados, práticos e robustos (além de bonitos), mas a Apple não estimula a pirataria, muito pelo contrário: usa outra lógica capitalista. Sua lógica é: meu produto é excelente porque investimos muito nele; se você quiser usar, pague por isso. E não sentem nenhum peso na consciência por fazer produtos caros. Valorativamente falando, acredito que seja uma estratégia mais transparente e, por isso, menos prejudicial à sociedade do que a estratégia manipuladora e obscura da Microsoft.
Mas odiar a Microsoft me parece um tanto quanto infantil: já ouviram falar de luta de classes? É inevitável: sempre vai haver alguém conquistando uma vantagem em detrimento de outros, anda mais no mundo capitalista, no qual a base do preço do produto é a falta de concorrência...
Falar IEca (Internet Explorer...) é compreensível, e gera risos entre quem entende o assunto, mas afasta quem não entende: a pessoa usou o navegador a vida inteira e de repente alguém o desmerece sem dar um motivo? É uma porcaria só porque foi feito pela Microsoft? Muito fácil de desbancar um argumento desses.
Por outro lado, achar que só porque a empresa cresceu muito tudo que fizer é bom é tão infantil quanto: fazer um produto bom não é suficiente para conquistar mercado (se fosse, as empresas de propaganda iriam todas à falência).
Eu acho que tanto do lado de quem defende a Microsoft quanto do lado daqueles que execram a empresa um pouco de reflexão menos, digamos, "religiosa", "fervorosa" ou "crente" daria resultados socialmente muito melhores. Prefiro discutir com alguém que rebata meus argumentos à altura destes: qualquer outro tipo de discussão é trollagem barata. (se você não sabe o que é trollagem, a Wikipédia explica).
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