Eng. Gilvan, parece que estas urticarias te afetaram mesmo.....:alberteinstein:
Abraços
Jodrix
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Eng. Gilvan, parece que estas urticarias te afetaram mesmo.....:alberteinstein:
Abraços
Jodrix
Caros amigos...
O nosso, assim chamado por vocês:
"poderoso feiticeiro", "Bruxo Wireless", "gênio do marketing!!!",
esta de volta com os seus "enigmas e polêmicas"
Pelo q vi ele posto mais um artigo polêmico, só q desta vez em seu blog
Acho q a urticária não o tiro de sena
Abraço a todos
T+
Não achei o blog.
QUANDO EU TOCO PIANO
Rapaziada, acreditem em mim. Ser viciado em piano é pior que ser apaixonado por futebol.
O futebol tem o problema do campo, não existem muitos e dá uma mão de obra o antes e o depois do jogo.
O piano tem problema com os vizinhos. Pouca gente gosta de ouvir. Por isso, os raros momentos que me sobram são os horários que eu apelidei de horários surdos. Com o tempo eu percebi que havia momentos em que eu não fazia superposição sonora na rotina dos meus vizinhos. Ali eu toco. Não sou muito versátil, gosto de tocar os clássicos onde as notas tem comprimentos de ondas diferentes. São as assimétricas, coisas de anteneiro metido a pianista.
Quando eu toco piano, toco olhando pela janela. Nunca ninguém no mundo me viu tocar piano de olhos abertos.
Quando eu toco piano, posso imaginar tudo. Primeiro que eu não estou ali, que o piano é só o meu tele transporte. Segundo que a música é só o protocolo do meu comportamento.
Tem músicas que me levam a caminhar por cima da Lagoa dos Patos, tem músicas que me levam a caminhar nas areias dos lençóis maranhenses. Tem músicas que me levam a caminhar sobre a relva de campos macios cercado por uma vegetação cheirosa da mata atlantica, é para onde eu mais gosto de ir.
Um piano basicamente compõe-se de teclado e caixa de som. Na caixa de som, estão os 88 martelos e as 88 cordas. No meu piano a caixa de som é verde.
Quando eu toco piano, eu sou eu, mas ás vezes eu sou o teclado, outras vezes, eu sou a caixa verde e outras, somos três em um.
Eu sou o teclado quando meus dedos, ao navegarem sobre o marfim, me fazem confundir se é eu o teclado que está tocando. Eu sou a caixa verde quando me iludo que o som nasce das minhas mãos.
Eu o teclado e a caixa verde, em certos momentos entramos em um estado tamanho de acoplamento que o som vasa pela natureza. Quanto mais bem nós nos acoplamos, melhor o som sai pelo ar em formas de ondas capaz de encantar mesmo quem estiver mais distante.
Quando eu toco piano, algo que não é físico, assim como um protocolo, passa de mim para o teclado. O teclado que é bem mandado obedece e transporta para a caixa verde a minha vontade. A caixa verde faz o milagre, transforma a minha vontade em música. Esta se propaga no ar. Balzac disse que há três coisas que não deixam vestígios. Um peixe na água, um pássaro no ar e um homem numa mulher. Eu acrescento a quarta: -Um sistema de três elementos diferentes e bem acoplados.
Orpheu é um ancião que mora do outro lado da rua, bem em frente á minha casa. Orpheu é cego, nasceu cego, não tem o conceito de cores, mas sabe tudo sobre som. Eu e ele nunca conversamos, na verdade ele me irrita e acho que ele sente o mesmo por mim.
Quando eu toco piano, Orpheu pega uma cadeira, senta e sob a sombra de uma figueira, presta toda a atenção na música. Uma leve desafinação e lá está aquele velho irritante batendo com a bengala na cerca de ferro. Para aquele tirano da freqüência, não interessa se foi eu o teclado ou a caixa verde. Para ele o som que chega aos seus ouvidos não pode ter ruído. Isso me irrita.
Fiz um plano para matar o Orpheu. Eu haveria de me vingar daquele carrasco. Ele haveria de ser o corpo delitus.
Eu e ele sabíamos que se duas notas tem freqüências ligeiramente diferentes estão desafinadas, que surge um batimento como se fosse um som áspero, uma dissonância que resulta da interferência destrutiva das duas ondas quando estas ficam em fase ou em oposição de fase. Ai estava a arma mortal. Eu iria matá-lo com o ruído.
Nos dias de Setembro o horário das seis horas, trás consigo uma paz adocicada no final da tarde, pela temperatura morna, pelo vento úmido, pelo farfalhar das folhas nas árvores e por uma vontade em todos de que tudo fique em silêncio. Esta seria a cena do crime.
A minha rua é sem saída, não tem tráfego. O sinal dominante sou eu quem gera quando toco piano. Esta seria a arma do crime.
O palco estava perfeito. Eu, a música e ele. A arma que era a interferência haveria de matar um dos três. Não poderia ser eu a morrer, porque eu estava protegido pelo plano. Não poderia ser a música a morrer porque ela era a arma do crime. Só poderia ser o Orpheu. Ele não iria agüentar.
Com acordes dissonantes, comecei a tocar Desafinado de Vinícius e João Mendonça no ritmo de bossa nova. João Gilberto foi genial quando criou uma maneira de fazer música usando os tons dissonantes, uma batida diferente no meio do som. O que é isso? Ora, superposição construtiva é claro.
Orpheu se levantou num pulo da cadeira, com a bengala erguida ameaçando a cerca de ferro.
Se você disser que eu desafino amor. A palavra desafino tem um acorde dissonante no i que é uma harmônica da nota natural. A bengala a riste tremia na mão do velho cego. Mas não descia.
Saiba que isso em mim provoca imensa dor. De novo eu agredia e o cego tremia. A palavra imensa na música é um desaforo musical, uma interferência normal.
Toquei a música até o fim – Que no peito dos desafinados também bate um coração. Então parei.
Orpfeu se virou lentamente e com passos trêmulos, entrou para dentro de casa.
Eu ainda tocava piano. Mas o tempo foi rolando. Passou setembro, outubro, novembro e chegou dezembro. Do outro lado da rua ninguém sentava debaixo da figueira. Só o meu olhar ocupava aquele lugar.
No dia trinta e um de dezembro, um pouquinho antes da meia noite, ouvi o som de um violão tocando “”chega de saudades””. Logo um violão, nenhum outro instrumento harmoniza melhor com o piano quando se toca bossa nova.
Sabem quem era? Era o defunto.
Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser,
Diz-lhe, numa prece
Que ela regresse porque eu não posso mais sofrer.
Chega de saudade
a realidade, É que sem ela não há paz
não há beleza
É só tristeza e a melancolia.
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Agora, quando eu toco piano um violão do outro lado da rua me acompanha. Fazendo superposições, marcando o tempo. Ás vezes em faze ás vezes atrasado, mas sempre em harmonia. Brincamos de dobrar e dividir a freqüência com os sustenidos e as oitavas. Ruído? Ruído é que nem limão. Com açúcar e cachaça fica ótimo.
Repito para vocês, ninguém no mundo vai me ver tocar piano de olhos abertos.
Gilvan
!
Piano e violão emite RF?
shuahsuahsuahs...
Vou ter que ler umas 47 vezes esse texto pra entender vagamente...