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IEEE 802.22 - Quais são os desafios.

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No artigo anterior sobre IEEE 802.22 comentei sobre os benefícios que esse novo padrão promete trazer e as vantagens dessa tecnologia. Neste artigo pretendo discutir um pouco sobre as dificuldades e desafio para tornar essa idéia uma realidade.

Quem quiser ler o artigo anterior, aqui vai o link: http://under-linux.org/b1317-o-ieee8...-wimax-nao-fez

O primeiro desafio é mais político que técnico: as empresas e operadoras que possuem licença das freqüências que seriam vizinhas dos rádios 802.22 não gostaram nada da idéia.

Lembrando que a idéia do 802.22 é ocupar os canais de freqüência não utilizados em uma determinada região. Na teoria os equipamentos 802.22 deveriam verificar quais as freqüências livres e ocupa-las, sem causar nenhum tipo de interferência nas operações das empresas licenciadas.

Um dos grupos que mais tem combatido a idéia do 802.22 nos EUA é o das emissoras de TV de sinal aberto, e não é sem propósito: é exatamente na faixa de freqüências livres das emissoras que está sendo focado os primeiros trabalhos. As emissoras estão chegando a alegar que o 802.22 irá minar a democracia porque irá inviabilizar os meios de comunicação abertos (é apelação, mas é uma mensagem com força junto ao americanos)

Não culpo as emissoras. Elas não vão ganhar nada com isso. Alguém até pode alegar que o uso dessas freqüências livres vai fomentar a economia e em uma economia forte as emissoras de TV teriam mais anunciantes. Um argumento que não convence muito. Por outro lado as emissoras teriam que começar a conviver com equipamentos 802.22 transmitindo perigosamente próximo das suas freqüências.

Quando falo de "perigosamente próximos", a preocupação não é com a teoria, mas sim com a prática. Como o equipamento 802.22 vai ter certeza que está ocupando uma freqüência livre? E se esse mecanismo de verificação falhar? E se o equipamento estiver com problema técnico e começar a gerar interferências?

Ou seja, hoje as emissoras de TV tem pouco que se preocupar (a não ser com um ou outro pirata de vez em quando), mas com o 802.22 elas temem virar vizinhos constantes de rádios mal comportados. Nesse caso eles precisariam criar equipes de "caça-fantasmas", com analizadores de espectro procurando rádios-problemas.

Para piorar, as emissoras de TV usam microfones sem fio em shows e eventos na mesma freqüência de sua licença. Os microfones custam pequenas fortunas, mas tem (ou tinham) a garantia de não sofrer interferência. Com o 802.22 essa tranqüilidade pode acabar. Imagine um show do Jay-Z sendo transmitido ao vivo, e de repente o áudio apresenta problemas por interferência???

Como qualquer país, os meios de comunicação tem muita força nos EUA, o que seria suficiente para demolir a idéia do uso dos "white spaces". No entanto essa briga foi comprada por alguns nomes grandes (a favor da liberalização do uso dessas freqüências): Google, Microsoft e Dell só para citar alguns nomes de peso e assim a luta continua.

O FCC, que regula as telecomunicações nos EUA, já se mostrou favorável à idéia da liberalização dessas freqüências livres desde que seja provado que existe tecnologia que permita o uso dessas freqüências de maneira segura, sem causar interferências nos sistemas primários.

Sendo assim, hoje a questão é a seguinte: existe tecnologia que permita assegurar a não interferência nos canais primários (ou seja, canais licenciados)?

O grupo de trabalho do IEEE 802.22 está propondo não apenas um, mas vários mecanismos que, em conjunto, iriam garantir a segurança da comunicação. Os principais são:
- Detecção. A principio parece simples: escutar as faixas de freqüência e encontrar alguma que não esteja sendo utilizada, certo? Infelizmente isso não é tão simples. Em primeiro lugar, essa verificação teria que ser feita continuamente (um sistema primário pode ser ligado a qualquer momento e o rádio 802.22 tem que sair da frente). Isso significa que, de tempos em tempos, os rádios precisam parar de transmitir e escutar. Isso iria causar atrasos que podem impactar tráfego como o VoIP.
- Base de dados. Os rádios 802.22 consultariam uma base de dados (no Brasil, seria mantido pela Anatel, nos EUA pelo FCC) para saber quais as freqüências livres na região. Eles teriam que ter também um receptor de GPS para saber sua posição exata e fazer a consulta. Isso significa que os equipamentos só poderiam trabalhar se tivessem conectividade com a Internet (ou pelo menos ao banco de dados do orgão regulador)

No entanto isso não é suficiente. Existe a possibilidade de outros problemas, mas difíceis de um padrão abordar. Por exemplo, como evitar má fé ou a burrice humana? Por exemplo, um provedor de Internet wireless está com problemas de comunicação com o site do orgão de regulamentação, isso faz com que a rede caia. Então ele resolve criar um site espelho local. Com isso os seus rádios funcionam mas não tem mais informações reais sobre quais frequências estão disponíveis. Nesse caso pode-se usar autenticação na comunicação entre os equipamentos e o banco de dados, mas como ficariam os sites de cada país? Cada orgão terá que montar um servidor com certificado digital e isso agrega complexidade ao processo (você começa a entrar em um ciclo, aonde cada problema resolvido cria outro).

Outro problema é o uso de equipamentos fora de especificação. Imaginem fazerem na freqüência dos canais de TV a mesma bagunça que os provedores fazem hoje em 2,4 Ghz (rádio sem homologação, amplificadores estourados, etc.)? A Rede Globo ia ficar louca atrás de tanta bagunça.

Assim o grupo do IEEE 802.22 está trabalhando ativamente para tentar solucionar esses problemas. Quanto à briga política, ambos os lados estão usando de todas as forças e deve luta deve ir longe. O Google e a Microsoft já fizeram demonstrações de protótipos provando que a tecnologia funciona e a associação que representa os interesses das emissoras de TV já fizeram demonstrações provando que a tecnologia não vai funcionar em todos os casos.

Aqui no Brasil ainda não vi nenhum posicionamento da Anatel. Eu acho difícil que uma tecnologia como essa, se for viabilizada e fizer sucesso nos EUA, não ser considerada aqui no Brasil. Se fizer o sucesso esperado, teremos uma explosão de acessos e uma redução do custo dos rádios, com os benefícios aparecendo por todos os lados.
Em um país com os problemas de telecomunicações como o Brasil, é difícil alguém justificar a não adoção de algo assim. No entanto também estamos em um país onde as detentoras das licenças (redes de TV e telcos, só para citar algumas) tem uma força política muito grande.

No Brasil eu acho que a briga vai ser boa também, mas acho que no final vai valer a força do óbvio: ninguém vai poder ficar contra, por muito tempo, algo que esteja gerando tanto benefício no resto do mundo. Sendo assim, na minha opinião, essa será uma tecnologia que vai demorar, mas vai ser útil para o Brasil.
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Comentários

  1. Avatar de rgosula
    802.22 é a única tecnologia recente com uso de OFDM que é feita para atender a uma area grande de pouca densidade. CDMA450 é só uma modificação do CDMA2000 pra entrar na frequência dos 450MHz. Todas outras tecnologias foram desenhadas para atender areas com alta densidade (GSM,CMDA2000,WCDMA,LTE,WiMax). O Physical Layer do 802.22 Atende ao requisito de longa distancia, e o MAC layer do 802.22 atende a não atrapalhar as transimissões de tv. O 802.22 poderia com simplificação do MAC atender a faixas reservadas tambem, se preservarmos o MAC. Neste caso é até possivel que as operadoras de TV se interessem pelo mercado.

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