Stellarium, Museu da Amazônia e a Falta de Informações Técnicas para os Nerds
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em 27-12-2009 às 19:58 (11339 Visualizações)
Sim! Um dos projetos de SL/CA (Software Livre e de Código Aberto) que mais aprecio está começando a arrumar seu espaço na educação de Astronomia no Brasil. Recentemente vendo uma reportagem no Globo.COM [1] sobre o projeto do Museu da Amazônia [2], me deparei com a curiosa proposta do Museu de criar um planetário inflável no Jardim Botânico de Manaus, onde os visitantes podem visualizar nossos céus aos olhos de como parte de nossos indígenas o vêem. Sim! O planetário apresenta as constelações da cultura Tupi-Guarani.
Esse foi o ponto que mais me chamou a atenção. Em nenhum momento a matéria fala da "parte técnica" do projeto. Eu conheço muitos softwares livres voltados para a área de astronomia, mas de imediato me veio a cabeça o nome Stellarium [3], já que é o único do gênero que pode simular nossos céus em tempo real, e ainda apresentar as constelações vistas por diferentes culturas. O projeto Stellarium tem implementado diversas culturas celestes diferentes a cada ano, e a última implementação de cultura celeste realizada (ainda no início da versão 0.10) foi a Tupi-Guarani.
Em Busca do Link Perdido
Porém para confirmar essa minha suposição, mergulhei no Google em busca de maiores informações. O primeiro alvo que você pode pensar onde eu fui catar maiores informações é óbvio: o próprio site do Museu da Amazônia, onde o projeto de planetário foi implementado. Para minha decepção, obter informações "nerds" em sites "comuns" é um verdadeiro martírio. Não estou nem falando da área de informática em si, mas acreditava que um projeto desses poderia trazer maiores informações técnicas a respeito. Acho isso uma cultura importante que nunca deveria ter sido deixada de lado em nossa sociedade. Mas nada! Eles só querem apresentar o produto final ("Temos um planetário!").
Minhas áreas de estudo e pesquisa são várias: Astronomia, Física, Química, Eletrônica e Bioinformática, se puder citar as bases de meus estudos, onde a matemática é a cola que une essas peças, e a informática é a ferramenta que faz tudo andar (Sim! :-D Sou pobre e, portanto, só tenho recursos para o desenvolvimetno da área teórica, i. é, o uso de simulações via computador). Por causa dessa vida "nerd" que levo, sempre achei que na nossa sociedade "comum" estava faltando o conhecimento-base (e primordial) das coisas. Sim! Nos dias de hoje ninguém mais quer saber da onde as coisas vem (será que algum dia elas quiseram saber?), ou mesmo de que é feito tal produto ou material. Num mundo onde as pessoas nem abrem os manuais de instrução dos equipamentos que compram ("Olha! Veio com manual de Instrução! Põe ali dentro daquela gaveta."), realmente parece ser pedir demais para que se crie e se mantenha à disposição as informações básicas do que existe "por detrás das cortinas do teatro" de nossas vidas, como Sociedade...
A partir desse ponto resolvi apelar e forçar minhas buscas com "planetário", "Museu da Amazônia" e "Stellarium", separado nesses três grupos, onde mantive as aspas para "Museu da Amazônia" para não me perder muito. Por sorte, foi aí que (achei que) comecei a encontrar as informações que queria. Nessa busca pelo Google, obtive apenas um único resultado (acreditem):
Ainda nos resultados desse site da UNESP achei que tinha encontrado tudo o que precisava, mas de teimoso (ainda bem) arrisquei fuçar melhor o endereço. E para minha decepção, descobri que essas informações não representavam um único post, e sim vários. Dentro da página utilizei o insubstituível recurso [F3] (busca de arquivos). Por sinal, esse é um dos recursos do porque eu afirmo que o livro impresso um dia vai acabar, assim que conseguirmos fazer sistemas seguros de livros digitais (eu não gostaria de perder meus livros digitais caso um idiota resolva gerar um EMP e destruir todos os componentes eletrônicos no seu raio de ação). Procurei por "Planetário Inflável" e me deparei com o post sobre o site do Museu de Astronomia [4].CECEMCA Web:
... do Museu da Amazônia (MUSA), que deve ser desenvolvido em seis anos. .....
Stellarium torna-se assim um programa indispensável para professores e alunos
...... O Planetário funciona com uma cúpula inflável, na qual é projetado o céu
...
http://cecemca.rc.unesp.br/simplog_s...D42%26cid%3D62 - 306k - Cached - Similar pages
Infelizmente sites "governamentais" pecam e muito com o (não-)uso da Web 2.0. Nem campo de busca você encontra nesse site. Quanto mais um sistema dinâmico e interativo. Sites governamentais deveriam ser feitos todos com tecnologias livres, utilizar os padrões da Internet, as técnicas e tecnologias disponíveis para aumentar a interatividade com o usuário, um bom design e, possuir um corpo especializado em seu desenvolvimento e manutenção. Depois de tudo isso, vem o óbvio. Esse site precisa ser aberto a todos os brasileiros interessados em visitar e contribuir com o seu conteúdo.
Acessei o link que mais parecia ser o alvo, o "Cursos e Eventos". Nada! Desisti da busca! Resumindo: o único fato que me permite afirmar que o Stellarium é o software utilizado (ao invés dos diversos outros softwares de planetário existentes) é o recurso de constelações visto por cada cultura distinta da humanidade, e que possua a cultura celeste Tupi-Guarani. Sim! (Até onde eu sei) o Stellarium é o único software planetário com esse recursos.
O Stellarium
Na minha opinião, o Stellarium tem tudo para ser o software de astronomia mais completo do mundo. Além de ser um SL/CA (Software Livre e de Código Aberto), o Stellarium possui todas as funcionalidades básicas que um software desse porte poderia (e deveria) ter, como o recurso de planetário e o uso do sistema de observação em tempo real do céu, em conjunto a equipamentos astronômicos de qualquer tamanho (sim! você pode observar o céu de sua casa com uma luneta ou telescópio, e ter o seu amigo Stellarium instalado em um notebook ao seu lado, para te ajudar a se orientar).
E sabe o melhor de tudo? O Stellarium ainda está na versão 0.10.2. Isso mesmo. O Stellarium é um dos softwares que provam a teoria de que o número de versão baixo de um programa não prova sua incompetência. Seu número de versão é tão baixo porque seus criadores planejaram desde o início para que o Stellarium seja, pelo menos, 100 vezes mais poderoso, em funcionalidades e recursos, do que ele é hoje em dia (pensem nisso como uma avaliação qualitativa, já que cada software possui suas metas estipuladas por seus criadores baseados em parâmetros próprios e distintos entre si).
O projeto Stellarium possui versões para Linux, Windows e Mac, e ainda conta com um catálogo extra de estrelas de mais de 600MB de informação textual (coordenadas) para que a sua instalação seja o mais completa possível. Se você apenas for instalar o Stellarium com seu catálogo de estrelas padrão (já vem na instalação), você terá acesso a mais de 600.000 estrelas. Se for instalar todos os catálogos extras (que você pode fazer isso mesmo pela interface do seu Stellarium já instalado), você terá acesso a informações sobre mais de 210 milhões de estrelas.
A interface do Stellarium é simples e intuitiva. por padrão ela vem em modo tela-cheia. Mas você poderá utilizar o modo de janela. Este último permite que você interaja as informações obtidas em tela com outros aplicativos de seu computador. O sistema pede apenas uma placa aceleradora gráfica 3D (não precisa ser muito poderosa, mas precisa ter o recurso 3D), e o OpenGL instalado e funcional na máquina (Linux).
Como o intuito desse post é abranger em uma linha de tempo real, os acontecimentos do mundo "normal" quando o mesmo colide com nosso mundo "nerd", não é minha intenção começar aqui um tutorial de uso (teórico e aplicado) do Stellarium. Caso alguém tenha interesse pelo curso, informe isso nos comentários abaixo, que prepararei com prazer uma série de posts sobre esse fantástico programa de Astronomia, desde sua instalação, passando pelas funcionalidades, até seus usos mais importantes e corriqueiros na área (e o quanto o Brasil está deixando de ganhar em seu sistema de ensino com a ausência desse software nas escolas e faculdades).
Saiba Mais:
[1] Notícia "primer" no Globo.COM: http://www.globoamazonia.com/Amazoni...EM+MANAUS.html
[2] Site do Museu da Amazônia: http://www.museudaamazonia.org.br/
[3] Site Oficial do Stellarium: http://www.stellarium.org/
[4] Museu de Astronomia: http://www.mast.br/http://www.qtl.co.il/img/copy.pnghttp://www.google.com/favicon.icohttp://www.babylon.com/favicon.ico
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