Concordo em parte com isso. Certamente o amigo deve lembrar da incrível norma 004 (portaria 148/95 do Minicom), que transformava as redes IP da internet em um suposto "serviço de valor adicionado" das redes do STFC, para impedir que as chamadas de comunicação de dados (encapsuladas pelos protocolos SLIP/PPP) fossem completadas pelos MUX-Modems (Network Access Servers - NAS) da rede da Embratel.
Ao contrário do que você afirma, a gangue do Sérgio Motta precisou gastar muita saliva para convencer os Sysops dos BBSs a tornarem-se provedores de acesso, já que isso implicava em grandes despesas para aquisição de RAS (lembra dos Total Control?), de um monte de linhas analógicas e da contratação de "links" de 64 kbps da Embratel a peso de ouro.
Os lobbies que oligopolizam atualmente o mercado (UOL, ZAZ, Mandic etc) só começaram a surgir a partir de 1997, quando as subsidiárias locais de telefonia começaram a instalar MUXes RDSI nas redes de acesso e tecnologia SDH na redes de transporte.
Como a questão da norma 004/95 e a existência dos provedores de acesso representam uma séria ameaça aos planos maquiavélicos do Minicom e da Anatel para transformar as concessionárias do STFC em operadoras multi-serviços, creio que seria uma boa que os próprios provedores fizessem um tremendo barulho em cima disso nas audiências públicas.
Pergunta 9: Por que a Anatel permitiu que a Telemar celebrasse um contrato de "turn key" com a Siemens em 2005 para cumprir obrigações de universalização de atendimento às comunidades com mais de 300 habitantes utilizando redes metro ethernet e telefonia IP, se o padrão IEEE 802.3, além de não fornecer suporte ao Sistema de Sinalização por Canal Comum (SSC-7) dos serviços públicos de telefonia fixa, também não atende aos requisitos de QoS do STFC?
Primeiro: porque é mais barato fazer assim do que usar os meios convencionais.
Segundo: o que caracteriza o STFC não é a tecnologia de transporte, mas a capacidade de interoperar livremente dentro do plano de numeração, nacional e internacional. Ou seja: se você é capaz de estabelecer uma conexão funcional entre dois terminais telefônicos (independente da tecnologia de construção de cada um deles) para a "transmissão de voz e outros sinais" você está dentro dos "processos de telefonia" previstos no art 1° do PGO atual (que, na minha opinião, é uma tautologia).
Terceiro: a questão da sinalização não é, de maneira nenhuma, impedimento para a interoperação de terminais, quer a originação-terminação da chamada telefônica seja IP-IP, IP-POTS (plain old telephony service) ou POTS-IP. O que acontece é que os terminais IP não usam sinalização DTMF (dual-tone multi-frequential) para o call-setup. Eles usam, muito provavelmente, SIP (session initiation protocol - IETF RFC 3261). O terminal IP é o SIP client, e o papel de SIP server pode ser feito por uma softswitch - que é uma "federação" entre uma MGC (media gateway controller) e um ou mais MG (media gateway). Quando o call-setup envolve terminais convencionais, a MGC usa SS7 para negociar o estabelecimento do circuito com as centrais convencionais. Já o bearer channel da conexão telefônica é uma sessão RTP (real-time transport protocol - IETF RFC 3550) entre os terminais IP (em uma chamada IP-IP) ou entre o terminal IP e o MG designado pela MGC para encaminhamento da conexão, com o encaminhamento do MG para as centrais convencionais usando os meios tradicionais (em uma chamada IP-POTS ou POTS-IP).
E, last but not least, quarto: quem disse que não dá para garantir QoS neste tipo de ambiente? É apenas uma questão de engenharia adequada. Eu mesmo já escrevi alguns artigos sobre isto (que estão postados em http://www.wirelessbrasil.org/jose_smolka/js01.html). E se ainda não lhe convenci, considere o seguinte: que eu saiba todas as empresas da lista Fortune 500 (e várias outras menos fashion, inclusive no Brasil) já migraram suas comunicações internas para VoIP, com transporte LAN (local area network) IEEE 802.3 e/ou WLAN (wireless LAN) IEEE 802.11, e cada uma delas é uma comunidade maior que 300 pessoas. E uma rede Metro Ethernet é, grosso modo, uma LAN com esteróides :-)
Pô Professor? Nessa questão nós vamos bater de frente. O fato do custo de implementação de redes NGN ser mais baixo do que o das redes PDH/SDH, não significa de forma alguma que as concessionárias do STFC possam utilizar redes NGN para cumprir metas de universalização de serviços de telefonia fixa, por causa dos seguintes detalhes:
1) É impossível conectar terminais-padrão do STFC diretamente à redes NGN, pois isso sempre requer o uso de "gateways" individuais (Adaptadores para Telefones Analógicos - ATAs).
2) As redes NGN não são destinadas à "transmissão de voz e outros sinais" e sim à transmissão de dados entre computadores.
3) A interconexão entre as redes NGN e as redes PDH/SDH do STFC só pode ser realizada através de "gateways", que convertem pacotes SIP, da plataforma IP, em pacotes PCM, da plataforma SSC-7 ou vice-versa.
4) As redes NGN, voltadas à comutação por pacotes IP, operam exclusivamente com "switches" e roteadores, enquanto as redes do STFC, voltadas à conexão por circuitos desde 1876 (ligar o ponto A ao ponto B para estabelecer circuitos de voz), operam exclusivamente com MUXes PDH/SDH (de repente, ainda pode até existir centrais "crossover" perdidas por aí).
5) As redes NGN operam 100% em meio digital, enquanto as redes do STFC operam em modo analógico (exceto no caso das centrais RDSI), na cobertura da última milha.
6) As concessionárias jamais poderiam cobrar as extorsivas assinaturas mensais do STFC pela utilização de serviços de telefonia IP que rolam nas NGNs.
Pergunta 10: Por que a Anatel batizou as redes metro ethernet (NGNs) como "backhaul do STFC", se essas redes, destinadas única e exclusivamente à comunicação de dados, não têm nenhuma relação com as redes PDH e SDH do STFC?
Conforme a Recomendação ITU-T Y.2001 (General Overview of NGN), uma NGN (next generation network) é uma rede de comutação de pacotes para a prestação de serviços de telecomunicação. Pelo andar da carruagem, a tecnologia melhor posicionada para satisfazer este papel é o IP. Mas uma rede de transporte Metro Ethernet (que transporta muito bem tráfego IP) não é necessariamente uma NGN, e pode, sim, com a engenharia adequada, ser usada como rede de suporte do STFC, conforme vimos na resposta anterior.
Provavelmente as tecnologias de transmissão PDH (plesiochronous digital hierarchy) e SDH sobreviverão ainda por algum tempo no contexto POTS, mas eu não compraria ações de empresas que dependem principalmente da venda deste tipo de equipamento para sobreviver.
Concordo com o amigo, exceto quanto a afirmativa que redes NGN possam ser usadas como rede de suporte do STFC (isso para mim é igual a água e vinho).
Certamente as redes PDH/SDH (essas sim) que formam a rede de suporte do STFC permanecerão por aí, firmes e fortes, durante muitos e muitos anos. Também é certo que, se o governo continuar insistindo em inventar trambiques para permitir que as concessionárias de telefonia fixa passem a utilizar redes NGN para explorar serviços de telecom que não têm nada a ver com o STFC (triple play), a candidatura da dona Dilma à presidência em 2010 subirá no telhado porque, a esta altura do campeonato, a transformação das concessionárias em "operadoras multi-serviços", será uma canalhice muito pior do que aquelas que rolaram no processo de privatização da Telebrás e os candidatos da oposição (exceto o DEM e o PSDB por motivos óbvios), vão deitar e rolar em cima dessa mega-contradição do governo Lula, que sempre jurou de pés juntos que iria acabar com as maracutaias das teles. Lembra disso?